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Introdução

Sou Paolo Trevisan, responsável pelo design na arquitetura da Pininfarina.

Eu trabalho desde 2000, são quase 18 anos na empresa, e antes disso, eu era um fã dessa história, que tem 88 anos e continua evoluindo, procurando o futuro e misturando design desde Ferrari e Maserati à prédios, canetas, relógios—toda vez é um desafio diferente. Estamos falando de seguir mais de 200 projetos fora do segmento automotive no mundo inteiro. É uma aventura bem interessante.

A Pininfarina

É uma responsabilidade forte. Se você olhar pro passado—eu ainda adoro passear na Itália, no museu da Pininfarina, e ver as coisas que foram feitas. Ainda olho todos os projetos antigos, olho pra trás bastante, porque a história que foi feita em 88 anos—eu não conheço, e acho que não existe uma outra empresa de design que conseguiu continuar na sua história. Normalmente é ligado à uma geração. Na Pininfaria, já está nascendo a quinta, a quarta já está entrando na empresa. Tem esse lado da família.

O que nós copiamos e aprendemos é a atitude, como olhar para o futuro e interpretar os elementos.

É uma grande fortuna ter esse bagaglio cultural, essa história que foi feita, o limite. Mas o engraçado é que, na verdade, a Pininfarina é feita de inovação. Você não pode copiar o passado porque não vai funcionar hoje. Então o que nós copiamos e aprendemos é a atitude, como olhar pro futuro, e como interpretar os elementos. Os valores permanecem os mesmos, mas as linhas, os traços e a resposta muda muito.

Representatividade e exclusividade

Nós estamos em uma posição privilegiada, porque trabalhamos com desenho de produto, de arquitetura, de meios de transporte, de eletrônicos. E na realidade, estamos sempre desenhando a mesma coisa. Algumas vezes me perguntam: “Como vocês conseguem desenhar uma Ferrari, desenhar uma caneta, e desenhar um edificío?”. No final, é tudo o mesmo elemento e uma comunicação. Portanto, antes de começar a desenhar, precisamos entender esses valores, entender o mercado onde estamos localizados, qual a mensagem importante que queremos transmitir com esse projeto. É ali que se desenha e se constrói tudo em volta, criando um experience.

Agora se fala de experience. Isso a Pininfarina já entendeu. Gostamos de entender qual o sonho que vai ser realizado. É uma história. Nós fazemos esse filme na nossa cabeça.

Agora se fala muito desse experience, isso acho que a Pininfarina entendeu desde o começo. Gostamos de entender qual o sonho que vai ser realizado, o que você vê quando está longe, quando virar a rua, qual vai ser a primeira perspectiva do edifício. Chegando na garagem, nós adoramos colocar uma atenção maior, é uma das primeiras entradas. E você vai descobrindo: dentro do elevador, qual vai ser a primeira impressão—o cheiro, a luz, o material, o tato, e por aí adiante. É uma história. Nós fazemos esse filme na nossa cabeça.

Temos um grande truque: nós trabalhamos em equipe. Somos um time, sonhador com diferentes know-hows. Até demos um nome: cross-fertilization. O que se aprende de um lado é puxado para o outro, havendo essa contaminação, sempre junto com nosso cliente, que inserimos no time de trabalho. No lado da arquitetura, adoramos trabalhar com arquitetos locais, decoradores locais, pra misturar e ter essa contaminação positiva, que é a nossa maneira de elevar o resultado dos nossos projetos.

Inovação

Tem uma frase bem interessante do Paolo Pininfarina, presidente da empresa, onde ele diz que “O objetivo do design é humanizar a inovação”. O que quer dizer isso? A inovação é bem interessante, ela tem um percurso e um caminho. A humanidade tem um percurso e um caminho. E nós temos que interpretar o quanto e como eles cruzam, e como isso pode ajudar uma vida, e criar essa experience, esse momento especial.

O objetivo do design é humanizar a inovação.

Eu brinco com o time de design com algumas frases, e uma delas é que a inovação e a tecnologia é como um medicamento, você precisa tomar quando precisa, e com a dose correta. Estamos em contato com empresas de busca, de tecnologia e inovação, e é incrível aquilo que já poderia ser feito hoje no mercado, mas se o mercado não está pronto, não faz nenhum sentido. Se olharmos para a história, existem muitas inovações que foram lançadas no momento errado.

Então é necessário realmente entender o que é necessário e utilizar a dose correta para criar essa emoção. O muito de um, ou o muito de outro, no final, não cria esse equilíbrio, que é a busca do design. É um desafio, que adoramos perseguir.

Design ou inovação

Algumas vezes me perguntam: “O que é design? Mas tem design? Esse projeto tem um valor a mais, que é o design”. Design quer dizer pensar, quer dizer o projeto, quer dizer entender o problema e fazer uma interpretação. Eu não vejo nada que pode existir sem isso. Muitas pessoas fazem design, provavelmente sem saber que esse é o nome. A inovação é um instrumento, uma ajuda. É olhar para frente, fazer um passo a mais.

Design quer dizer pensar, quer dizer o projeto, quer dizer entender o problema e fazer uma interpretação. Eu não vejo nada que pode existir sem isso.

Pode ser que eu seja designer, e esse é o meu sonho, a minha visão, mas eu acho que não existe nada sem o design, o pensamento, e tudo. Temos um lado instintivo, mas temos o lado do cérebro do cálculo, do raciocínio, dos elementos, e quando isso se mistura é que se cria o que podemos chamar de inovação. Isso pode criar o “ver além” das coisas.

Eu vejo o design como um pensamento, e acredito que é importante que pensamos bem antes de fazer qualquer coisa.

Essência

Nós somos chatos. Gostamos que as coisas sejam perfeitas. E a perfeição nunca está ali—ela está sempre perto, e nós tentamos tocar e vamos aprendendo. Fazemos um projeto novo, aprendemos algumas coisas, e acaba o projeto, já estamos olhando para o próximo, e tentando melhorar ele ainda.

A sociedade está mudando. E a paixão do designer, e da Pininfarina, é de apresentar e olhar a sociedade. É um amor pelas pessoas, por aquilo que acontece, e tentar participar criando produtos, histórias e experiências, cada vez mais alinhadas com esse movimento geral que nós olhamos de uma maneira bem positiva. É um desafio, e um prazer incrível.

Cidade do futuro

É uma resposta difícil de dizer, pois ela está em contínua evolução. Acreditamos que a tecnologia deve estar alinhada à natureza—deve ter um respeito ao meio ambiente. Parece uma frase feita, mas não é. Está muito interessante a captação de energia de diferentes modos. A Pininfarina está sempre buscando o próximo.

Acreditamos que a tecnologia deve estar alinhada à natureza. Não é apenas a responsabilidade de fazer um projeto hoje, mas a responsabilidade de ver como estará daqui 20, 30, 40 anos no mercado.

Quando eu entrei na Pininfarina, há quase 18 anos atrás, já haviam vários carros elétricos que estavam rodando dentro da empresa, fazendo testes, e analisando. Hoje, na Pininfarina, nós estamos construindo um carro à hidrógeno. Então, com um braço, estamos visionando um futuro, o futuro mais longe, com outro, no presente, tentando fazer—com passos de tamanho correto—alinhados com aquilo que o mercado está pronto para receber. E o terceiro braço, olhando para trás e sempre lembrando do que foi feito com o máximo respeito.

Não é apenas a responsabilidade de fazer um projeto hoje, mas a responsabilidade de ver como esse projeto feito hoje estará daqui 20, 30, 40 anos no mercado. É por isso que gostamos de olhar tanto para o futuro. Pois imaginamos que algumas coisas que estaremos fazendo hoje estarão lá, e nós gostamos desse long-lasting.

Desafio

A Pininfarina hoje está crescendo. Ela é sempre uma presença da família Pininfarina. Antigamente o design, a criatividade, era somente feita na Itália. Agora começamos nos Estados Unidos, temos escritório na Alemanha, que faz engenharia, temos escritórios na China, estamos abrindo em outros lugares do mundo. Estamos alargando a nossa presença, e um grande desafio é manter a qualidade, a paixão, a visão, em todas as coisas que fazemos. Essa é um pouco da nossa transformação interna.

E por que isso? Não é questão só de business ou de dinheiro. É porque percebemos que, quando estamos mais perto do projeto, quando conseguimos seguir com um contato mais próximo, conseguimos entender melhor o mercado e elevar a nossa qualidade. Esse é o nosso novo desafio, de criar uma internalização ainda maior da Pininfarina, enquanto mantendo a alma que caracterizou a Pininfarina desde os primeiros dias da formação da empresa.

Brasil

A Pininfaria e o Brasil tem uma história longa. O mesmo fundador da Pininfarina, muitos anos atrás, viajou—e era um pessoal realmente super interessante, faziam diários de viagens—e tinham fotos de viagem dele olhando a cidade, a evolução do Brasil, e ele até escreveu como essa cidade (Balneário Camboriú) seria uma das cidades mais importantes no futuro. É incrível. E é muito fácil trazer o Paolo Pininfarina, presidente da empresa, aqui no Brasil. Ele adora vir aqui.

Existe uma questão cultural, de gosto, de paixão, muito semelhante. Nós acreditamos que o Brasil seja um mercado interessante para a Pininfarina.

Acho que existe uma questão cultural, ou de gosto, de paixão, muito semelhante. Nós acreditamos que o Brasil seja um mercado interessante para a Pininfarina. Existe muita coisa a ser feita. E os valores, esse lado emotivo, o gosto, e as prioridades são muito parecidas com aquilo o que a Pininfarina faz.

E com certeza a ideia é de aumentar a nossa presença no mercado brasileiro. Hoje estamos com projetos em São Paulo, em Balneário, aqui na área de Santa Catarina. Desenhamos barcos para o Brasil, e estamos imaginando alguns outros projetos, que sairão em breve.

Pininfarina, 88 anos, e ainda uma empresa jovem, que olha para o futuro como uma criança.